O transporte público do Grande Recife vive um dos momentos mais críticos dos últimos anos. De acordo com dados do Grande Recife Consórcio de Transporte, 83% dos ônibus que atendem a Região Metropolitana circulam sem ar-condicionado, fazendo com que os passageiros enfrentem viagens longas sob forte calor. Dos 2.482 ônibus em operação, apenas 410 contam com refrigeração.
Além do desconforto térmico, o envelhecimento acelerado da frota preocupa. Cerca de 40% dos coletivos já ultrapassaram a vida útil, que é de no máximo sete anos para ônibus convencionais. Hoje, a idade média da frota é de 6,07 anos, mas, segundo o Ministério Público de Pernambuco (MPPE), esse cenário pode se agravar rapidamente.
MPPE alerta para deterioração e cobra medidas urgentes
Diante do quadro, o MPPE expediu, na quarta-feira (26), uma recomendação ao Grande Recife Consórcio de Transporte (GRCT/CTM) para reverter a deterioração do sistema. Segundo o órgão, se nada for feito, mais de 70% da frota pode estar fora da vida útil até o fim de 2026, comprometendo ainda mais a segurança e a eficiência do serviço.
O Ministério Público também chamou atenção especial para a situação de Jaboatão dos Guararapes, onde determinou a retirada imediata dos veículos mais antigos de circulação. A recomendação inclui um pacote de ações que o GRCT/CTM deve cumprir:
Medidas cobradas ao Grande Recife Consórcio de Transporte
- Intensificar as vistorias de segurança em até 60 dias;
- Realizar estudos econômico-financeiros para inserir os custos de renovação da frota na tarifa ou no modelo remuneratório em até 90 dias;
- Apresentar um relatório completo sobre a idade da frota em até 90 dias;
- Entregar o cronograma atualizado da nova licitação dos lotes remanescentes também em até 90 dias.
A Secretaria Estadual de Mobilidade e Infraestrutura (SEMOBI) também recebeu recomendações:
Medidas para a SEMOBI
- Em até 30 dias, deliberar sobre a inclusão da renovação da frota na política tarifária;
- Em até 60 dias, apresentar estudos sobre o modelo remuneratório que substituirá o sistema atual a partir de 2026.
Os órgãos têm dez dias úteis para informar se acatam as recomendações, sob pena de medidas judiciais.
Empresas ultrapassam 50% da frota vencida
Segundo dados recebidos pelo MPPE, um em cada três ônibus da RMR roda acima do prazo permitido em lei. Em algumas empresas, o número supera 50% da frota:
- Caxangá: 59,70% dos ônibus fora da vida útil
- Metropolitana: 57,35%
- Viação Mirim: 56,52%
O cenário viola o Decreto Estadual nº 40.559/2014 e a Lei Estadual nº 16.787/2019, que determinam a renovação obrigatória de veículos com mais de 8 anos (convencionais) e 10 anos (articulados/BRTs).
Apagões e risco de colapso no sistema
O MPPE lembra que a falta de renovação torna o sistema vulnerável a falhas severas, como o apagão operacional de 22 de janeiro de 2025, quando mais de 4,7 mil viagens foram prejudicadas. O risco de novas interrupções semelhantes ao caso da Empresa Vera Cruz, que encerrou atividades recentemente, também preocupa.


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