Na manhã desta terça-feira (9), a cirandeira Lia de Itamaracá, de 82 anos, e seu produtor, Beto Hees, compareceram à Câmara Municipal da Ilha de Itamaracá para prestar esclarecimentos sobre sua saída da Secretaria de Turismo, Cultura e Lazer, ocorrida na última quinta-feira (4).
Segundo Lia, desde que foi convidada pelo prefeito Paulo Galvão (PSDB) para assumir a pasta, deixou claro que só trabalharia junto com sua equipe. No entanto, seu pedido teria sido ignorado por meses, o que a deixou isolada e sem influência nas decisões culturais do município.
“Fiquei voando sozinha, como é que pode? Tenho a minha equipe que trabalha comigo honestamente e eu gosto de trabalhar com eles”, afirmou Lia durante a audiência. De acordo com Beto Hees, apenas três pessoas indicadas pela artista foram nomeadas oficialmente no dia 31 de julho deste ano, quase no fim de sua gestão.
Até então, Lia teria ficado afastada das decisões da prefeitura em relação a grandes eventos, como São João e Carnaval. Com a chegada da pequena equipe, a artista tentou imprimir mudanças na organização da Abertura do Verão da Ilha de Itamaracá, realizada entre os dias 5 e 7 de setembro.
Conflito sobre orçamento cultural
De acordo com Beto Hees, a prefeitura dispunha de um orçamento de R$ 1 milhão para o festival e precisava da assinatura de Lia para autorizar os empenhos. Ao perceber a ausência de atrações da cultura popular e do Litoral Norte na programação, Lia propôs a criação de um polo específico para o segmento, com investimento de R$ 100 mil – cerca de 10% do total do evento.
A proposta, no entanto, foi recusada. Diante da negativa, Lia se recusou a assinar os empenhos do festival, o que teria levado à sua exoneração.
“Era uma vergonha para uma Patrimônio Vivo (da Cultura de Pernambuco) assinar o empenho de uma grade de trio elétrico. Primeiro era um palco imenso na Praia de Jaguaribe, do tamanho do Marco Zero, orçado em R$ 1 milhão. Depois virou um trio elétrico, mas não foi apresentado o custo. Da mesma forma, não foi divulgado quanto custou o São João, do qual Lia também foi afastada”, destacou Beto.
A saída de Lia gerou repercussão na Ilha de Itamaracá, onde ela é símbolo da cultura popular e reconhecida internacionalmente por sua contribuição à ciranda.
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