Por João Paulo Saconi
11/07/2025 – 17h18
Na virada do mês, a 1ª Câmara do Tribunal de Contas de Pernambuco manteve, por unanimidade, a suspensão de contratos de publicidade firmados pela gestão da governadora Raquel Lyra. Em dez anos, os acordos — agora interrompidos — representariam o pagamento de R$ 1,2 bilhão a quatro agências responsáveis pela divulgação institucional do Governo do Estado.
No entanto, o que era para ser uma decisão técnica passou a gerar desconforto nos bastidores da administração estadual. Isso porque um dos votos favoráveis à suspensão partiu do vice-presidente do TCE, Carlos Neves, que é primo legítimo de Pedro Queiroz Neves, o advogado responsável pelas denúncias que deram origem ao processo.
O parentesco tem sido debatido no entorno da governadora e pode motivar um pedido de suspeição contra o conselheiro. A situação se complica ainda mais com a revelação de que Pedro Neves foi nomeado, em fevereiro deste ano, como assessor com cargo de confiança no gabinete do deputado estadual Rodrigo Farias (PSB), vice-líder da oposição na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe).
O caso ganha contornos ainda mais políticos diante do cenário de embate crescente entre os grupos de Raquel Lyra e João Campos (PSB), prefeito do Recife e possível adversário da tucana nas eleições de 2026 ao governo do estado. O TCE, inclusive, já proferiu decisões desfavoráveis aos dois lados: enquanto a gestão Raquel enfrenta a suspensão dos contratos de publicidade, a Prefeitura do Recife está na mira por suspeitas de irregularidades em contratos próprios.
Procurado, o TCE informou que, apesar de ter votado pela suspensão, Carlos Neves não foi o relator do processo — função que coube ao conselheiro Eduardo Porto, responsável também pela decisão liminar de suspender os pagamentos antes mesmo da votação em plenário.
O Tribunal reconheceu que Neves possui parentesco com o denunciante e também com o secretário de Comunicação de Pernambuco, Rodolfo Costa Pinto, cuja pasta foi diretamente afetada pela suspensão dos contratos. Ainda assim, ressaltou que o conselheiro atuou “devidamente, sem estar impedido para o julgamento”.
Outro ponto que gerou ruído no governo foi o fato de Neves estar, na data da sessão, exercendo interinamente a presidência do TCE. Embora sua participação tenha se restringido ao julgamento como membro da 1ª Câmara, o laço familiar com o denunciante voltou a ser mencionado nos bastidores como um fator de desconforto.
Com a temperatura política subindo e os tribunais cada vez mais presentes no debate público, o episódio amplia a tensão entre os principais grupos que disputam o comando de Pernambuco.
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